30/06/2013

O crítico como artista

Nenhum poeta canta porque tem que cantar.

Pelo menos, nenhum grande poeta o faz.
Um grande poeta canta porque resolve cantar.
É assim agora e sempre foi.
Às vezes somos levados a pensar que as vozes que se ouviam na alvorada da poesia eram mais simples,mais arejadas, mais naturais que as nossas e que o mundo que os poetas primevos contemplavam e pelo qual passeavam era dotado de uma espécie de virtude poética própria que podia quase sem alteração passar à canção.
Hoje a neve está acumulada no Olimpo e suas encostas íngremes e escarpadas estão ermas e estéreis, mas imaginamos que outrora os alvos pés das musas roçavam o orvalho das anêmonas pela manhã e à noite, chegava Apolo para cantar aos pastores do vale.
Mas com isso estamos apenas atribuindo a outras eras o que desejamos, ou cremos desejar, para a nossa.
Nosso senso histórico é deficiente.
Todo século que produz poesia é, na medida em que o faz, um século artificial,
e a obra que nos parece o produto mais natural e simples da sua época é sempre o resultado do esforço mais autoconsciente.
Creia-me, Ernest, não há belas-artes sem autoconsciência, e a autoconsciência e o espírito crítico são uma coisa só. 

Oscar Wilde: de "The critic as artist"
Saiba mais sobre:http://en.wikipedia.org/wiki/The_Critic_as_Artist


3 comentários:

  1. Oi, Alba. Gosto da maneira como Oscar Wilde vai à fundo e mexe com os sentimentos de cada uma...só a partir da autoconsciência é possível a transformação, caso contrário, qualquer poesia será vã. Um abraço!

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  2. Wilde não tinha papas na língua e dizia tudo aquilo que os outros tinham vontade de falar mas que não falavam para manterem-se intactos diante de uma sociedade.

    Eu gosto.
    Um abraço e linda semana...

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  3. Gostei muito daqui.
    Vou voltar!

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