Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.
As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.
Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.
Aquela que fala do namorado com tanta ternura.
Mesmo das brigas ando tendo inveja.
Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,
Sempre querendo, querendo.
Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.
Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.
Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.
No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança
Do hálito quente do outro. A voz, o viço.
Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
Expulsar de mim essa Nossa Senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
Onde tudo é grave e único.
E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
Nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.
E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.
A mulher que engravida porque gosta de criança.
Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe,
Ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,
E ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.
Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.
E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
Não tenho bons modos nem berço.
Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?
Eu, cuja única função é lavar palavra suja,
Neste fim de século sem certezas?
Eu quero que a solidão me esqueça.
As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.
Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.
Aquela que fala do namorado com tanta ternura.
Mesmo das brigas ando tendo inveja.
Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,
Sempre querendo, querendo.
Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.
Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.
Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.
No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança
Do hálito quente do outro. A voz, o viço.
Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
Expulsar de mim essa Nossa Senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
Onde tudo é grave e único.
E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
Nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.
E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.
A mulher que engravida porque gosta de criança.
Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe,
Ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,
E ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.
Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.
E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
Não tenho bons modos nem berço.
Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?
Eu, cuja única função é lavar palavra suja,
Neste fim de século sem certezas?
Eu quero que a solidão me esqueça.
Viviane Mosé
Olá, Arte e Café!
ResponderExcluirAdorei a escolha do texto. Também estou torcendo pra solidão me esquecer!!
Bjs!
Rike.
Estimada amiga Alba, amanhecer lendo os textos que nos prestigia é como beber um café recém coado com direito a dedos de prosa mansa antes de começar a correria dos tempos modernos.
ResponderExcluirPara vez ou outra durante os afazeres do dia, lembrar com alegria, ao amanhecer passei no Arte e Café da Alba.
Abs.
José Fonte de Santa Ana.
Arte da Alba,
ResponderExcluirO Café faz parte do complemento deste ilustrado e harmonioso deleite.
Parabéns e agora vou admirá-la mais.
João Bosco
olá minha rica Flor Alba
ResponderExcluircoisinha q poema fantastico
a autora deu uma chutada no pau da barraca
gosto disso soltar liberar sentimentos
embora ela tenha o sufocado
bjaço minha rica Flor Alba
Oi querida Alba,
ResponderExcluirViviane Mosé é mesmo surpreendente.
Aliás, creio que teria mais futuro como escritora que como comentarista de programa de rádio.
Assim como ela, quero mais que a solidão me esqueça...
E como diz a música, o negócio é amar!
Beijo e bom final de semana.
Perlustrando patética petição produzida pela postulante, prevemos possibilidade para pervencê-la porquanto perecem pressupostos primários permissíveis para propugnar pelo presente pleito pois prejulgamos pugna pretárita perfeitíssima.
ResponderExcluirOi minha flor... que lindo poema. Você além de uma escritora e poetisa de mãos cheias, ainda tem um bom gosto admirável...
ResponderExcluirQuem é que se vê frente a frente com a possibilidade de ficar só, que nãos sente todas estas coisas aí?
Quem é capaz de ficar imune a solidão de amor?????
Beijo no coração
Bem, não nego, as vezes queremos mudar, ou não.
ResponderExcluirBela postagem Alba.
ResponderExcluirA Poesia. Essa atemporal senhora que nos embriaga e devora, fazendo sentir o pensar. Nossa Madona das letras, que atrai e afugenta inspirando o sorrir e o chorar.
Um abração.
A solidão é opcional? Por que nos aprisionamos na solidão?
ResponderExcluirHá momentos em que precisamos estar apenas com nossos próprios pensamentos. Aqui a solidão é opcional, uma forma de relaxar e aproveitar o silêncio. Dá um tempo da correria e agitação cotidiana.
Mas, isso não pode ser constante. Se você está aprisionado em sua própria solidão, passará a ter inveja daqueles que sabem derrubar as grandes e saem para se relacionar com o mundo.
Um abraço,
Bruno Borges Borges
brunoborgesborges.blogspot.com
Agradeço a presença e o comentário de todos!
ResponderExcluirSejam sempre bem vindos!
Uma ótima semana para vocês!!!
Abraços
Olá minha querida amiga!
ResponderExcluirAlba, estou atrasada (virou rotina isso, né? kkkk), mas aqui estou!
A Viviane Mosé escreve muito!!! Sabe que ao ler, lembrei de algo que minha filha me disse hoje: "às vezes queremos apenas ficar quietas no canto, esperando a dor passar, os sentimentos recobrarem os sentidos e não ficar testemunhando a felicidade estrondosa dos outros! Só quero ficar quieta...no meu silêncio e aprender com ele!".
Lindo isso, né? E pensar que partiu de uma garota de 16 anos...
Grande beijo, amiga!
Jackie
Olá minha queridíssima amiga !!
ResponderExcluirDesculpas pelo atraso, mas chegueiiii !! :)
Lindíssimo texto, adorei sua escolha, como sempre !!
Acredito que pelo menos uma vez que seja, todos nós nos sentimos desta maneira, mesmo que sozinhos por escolha, em alguns momentos temos necessidade de não estar só , porque creio eu, existem horas em que a solidão grita.
Ela passa, mas quando ela aparece dando ênfase a um vazio que se mostra, é dolorido e nos faz querer que logo se vá...
Quem nunca sentiu inveja, seja da solidão ou do amor alheio ? Somos eternos insatisfeitos nestas fases...
Um super beijo marcial !!!