16/08/2012

Quando a cortina não se fecha

   “Bibi – Histórias e Canções”
Quando a cortina não se fecha
“Bibi – Histórias e Canções”, dirigido por João Falcão, inaugura o Theatro Net Rio em grande estilo.
O repertório, um resumo de alguns dos momentos mais marcantes de sua carreira como “Minha querida lady” (adaptação de 1962 do musical “My fair lady”), “Alô, Dolly” (de 1965, adaptação de “Hello, Dolly”), “Gota d´água” (1975), “Piaf, a vida de uma estrela da canção" (1983) e “Bibi Ferreira viveAmália Rodrigues” (2001), é interpretado unicamente por Bibi acompanhada de uma orquestra de 27 músicos regidos pelo maestro Flávio Mendes. Além do que o Brasil já viu, no programa, constam números inéditos: interpretações de canções brasileiras de compositores como Chico Buarque, Noel Rosa, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, além de brincadeiras com óperas clássicas e textos nacionais.
A grande atriz e cantora conversa com o público, dialoga com o maestro, faz o show com a plateia.
            O tempo é um dos fatores mais importantes na observação da arte. É porque vinte e quatro quadros passados na velocidade de um segundo dão a sensação de unidade e movimento que o cinema existe. É porque não se consegue ler Dostoievski em duas horas, mas uma boa crônica se consome em alguns minutos que os gêneros literários têm o seu lugar. Um quadro ou uma escultura só adquire valor quando permanece bela através da passagem dos séculos. Música e tempo são sinônimos e a dança é um jeito da música ser vista além de ouvida. O teatro nasce e morre nos intervalos de tempo e sua beleza está no seu renascer constante. Os personagens duram apenas o tempo da apresentação e, quando a peça acaba, um escritório e uma prisão são apenas canos, um mar é apenas um jogo de luzes, uma sala é apenas um sofá. Bibi Ferreira faz 90 anos e a emoção de assisti-la vem, dentre vários motivos, da graça que é contemplar alguém que dribla o tempo com doçura e com coragem, com talento e com técnica, com amizade e reconhecimento. O tempo faz reverência para Bibi Ferreira.
            Quando nos anos 20 do século passado, Abigail Ferreira substituiu uma boneca e entrou em cena pela primeira vez, Bibi era ainda um bebê. Trocadilho à parte, o brinquedo ainda está em cena, passando de mão em mão e chorando na hora certa. Viagens ao Chile e apresentações no Teatro Municipal do Rio de Janeiro nos anos 30, a própria companhia teatral veio nos anos 40. Bibi é a história do teatro brasileiro, sendo o próprio teatro brasileiro. Recanta hoje canções apresentadas em musicais dos anos sessenta, setenta, oitenta e dois mil. Vestindo elegantemente um vestido longo preto, ela olha para o público sem os famosos óculos escuros que marcaram a sua imagem na televisão desde a sua inauguração nos anos cinqüenta até hoje. O público vê os olhos de uma diva e encontra nele o mesmo brilho que tantos públicos ao redor do mundo encontraram ao longo desses noventa anos. E aplaude, quem diria, o teatro que não consegue se terminar hoje para se recomeçar amanhã, mas permanece ali de pé, afinado e forte ao longo de quase um século com as cortinas sempre abertas.

Bibi Ferreira interpretando Joana na peça Gota D'água

Um comentário:

  1. Alba querida,
    Que bom ver e ler um texto seu, outra vez!
    Quanto à Bibi, não há dúvidas sobre a sua (dela) importância para a dramaturgia brasileira.
    Pode-se discordar do seu temperamento e destemperos. Mas não do potencial e capacidade intelectual.
    Sendo filha de quem é...
    Obrigada!
    Saudade dos nossos papos e desabafos...rsrsrs
    Beijo.

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