21/11/2011

Aprendendo a viver


Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor por essa vida mortal a assassinava docemente aos poucos. E o que é que se faz quando se fica feliz? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda que já está começando a me doer como uma angústia e como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, ela não queria ser feliz. Por medo de entrar num terreno desconhecido. Preferia a mediocridade de uma vida que ela conhecia. Depois procurou rir para disfarçar a terrível e fatal escolha. E pensou com falso ar de brincadeira: “Ser feliz? Deus dá nozes a quem não tem dentes.” Mas não conseguiu achar graça. Estava triste, pensativa. Ia voltar para a morte diária.
Clarice Lispector do Livro Aprendendo a Viver 

6 comentários:

  1. Adoro os textos de CLarice...
    São incríveis!

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  2. Olá minha queridíssima amiga !

    Mil perdões pela ausência e demora, mas a coisa está preta no trabalho, ando até vesga kkk e não gosto de visitar na pressa, sem poder me entregar à leitura e apreciar cada pedacinho :)
    Mas cá estou euuu !!
    Eu amo esta forma da Clarice descrever sem pudor, sem medo e sem vergonha, o caos interno que nos aflige !
    Neste trecho ela mostra muito bem como somos avessos a mudança, a alegria ! Preferimos às vezes não sair de nossa zona de conforto, mesmo que não seja boa, pois temos medo do desconhecido, de algo que não sabemos lidar e muitas vezes, justamente por isso, acabamos abrindo mão de muitas coisas maravilhosas...
    Uma realidade que deveríamos refletir sobre , para não desperdiçar a felicidade !!
    Lindo demais !!

    Um super beijo marcial e um abraço apertado !
    Boa semana !!

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  3. @Caroll
    Grata presença e elogio ao artigo!
    Sempre bem vinda!
    Beijos

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  4. @José
    Cada novo segundo esbarramos neste desconhecido.
    Quando percebemos já estamos inevitavelmente entrelaçados com o novo...
    Acredito que toda aceitação é um desafio que enfrentamos para buscar esta possível felicidade.
    Em vários de seus textos C.Lispector evidencia que a felicidade de seus personagens transborda, por não terem como dividi-la!
    Obrigada José, pela presença e expressivo comentário!
    Beijos

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  5. @Querida amiga Sam
    Que bom ter sua presença!
    Ah, o tempo anda curto mesmo, não tem nada que se desculpar.
    Você sabe que é bem vinda a qualquer momento!
    E adorei a sua interpretação do texto.
    Realmente por medo, ou comodismo, perdemos valiosas aprendizagens em nossas vidas!
    Muito obrigada pela visita e belo comentário!
    Grande beijo Marcial e uma ótima semana!

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  6. Há os que desejam imensamente aprender viver, mas não conseguem sequer dar um passo nesta direção.
    Outros, vivem intensamente mas não conseguem frear os passos que os levará a um abismo desenhado pelo amor.
    No entanto, o mais importante e aprender e descobrir quais caminhos percorrer.
    É como diz a música: Vivendo e aprendendo a jogar...
    Minha querida Alba,
    Clarissse é única!
    Grande beijo.
    O Arte é tudo de bom! rsrsrs

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