19/02/2011

Quando parti para dentro de mim


Silêncio no cais.
Lembranças de um navio que nunca partiu.
Noite vasta, vagam os fantasmas na memória.
No sonho da lua,
dançam  estrelas perdidas...
Nas cidades desertas,
dormem esperanças sob velhos telhados quebrados.
Desbotam estátuas dos deuses do desejo...
Amores inventados pela solidão.
Esqueço-te.
Dentro da estação,
no espelho do tempo,
na curva do destino...
Na próxima parada,
no vazio das palavras despidas...
Então o que restou?
Ausência...
De ti, de mim, por nós.
Meus equívocos explícitos...
Na poeira do vento, 
em algum momento,
confundi os seus segredos com os meus...
Agora esta  estrada me chama, eu vou.
Portal implacável, separando o que passou.
Foi quando parti para dentro de mim...
Pela primeira vez me reconheci.
E o silêncio se quebrou,
Vi o velho navio sumindo em alto mar,
As esperanças despertaram,
renovaram -se os telhados,
pintaram as estátuas...
Lembrei-me quem sou.
Corri  até a estação,
embarquei  no primeiro vagão.
E antes que o trem partisse, peguei o espelho, passei um batom.
Sem olhar pra trás, como uma vertigem, finalmente lhe disse: Adeus.
Alba Simões

8 comentários:

  1. Alba.... eu partir para dentro de mim, tem uns dias, sei que as pessoas já devem ter notado, mas eu precisei de fazer isso. Tem momentos que são inevitáveis.

    Ele se faz tambem importantissimo quando precisamos reavaliar conceitos e atitudes.

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Olá, Arte e Café!
    Mais uma belíssima escolha, parabéns!!
    Bjs!
    Rike.

    ResponderExcluir
  3. Alba, esta poesia é maravilhosa.... é exatamente o nascer da borboleta depois de estar presa ao casulo do passado.... refeita volta a ser mulher!
    Beijo no coração

    ResponderExcluir
  4. Olá minha queridíssima amiga Alba !!

    Que texto magnífico !!! Emocionante, intenso, profundo e muito envolvente !
    Me senti tomada pelas sensações descritas, talvez por me identificar com este redescobrimento de mim mesma numa situação dolorosa de despedida de algo importante, que em algum momento fez parte de mim.
    A dor que nos impulsiona e ensina, mostrando que nesta vida, nada é em vão..
    Ai que lindo !!!Amei !!
    Um super beijo marcial !!

    ResponderExcluir
  5. Magnifico poema Alba.

    Só mergulhando nos limites do nosso infinito, podemos nos encontrar entre os desencontros, desmascarar as quimeras da solidão e despindo o tempo passado, reencontrarmos no hoje a trilha do amanhã. Reassumindo a autoria de nosso sentir e pensar.

    Um abração.

    ResponderExcluir
  6. Querida Alba,
    “Passei o batom...”
    Simplesmente maravilhoso!
    A libertação total, a soltura das amarras e o tempo vivido deixado para com passado, sem, contudo, deixando de estabelecer o elo com o futuro...
    O recomeçar...
    Lindo, lindo!
    Como sempre, compartilhei.
    Viagem? Você me faz viajar...
    E olha, sou taurina, me custa muito tirar os pés do chão.
    Obrigada por me fazer viver momentos poéticos maravilhosos.
    Grande beijo.

    ResponderExcluir
  7. Ola´amiga passei por aqui para deixar um recado,tem um Meme literário esperando por você no blog mundo virtual!!!
    confira!!
    beijão!!

    ResponderExcluir
  8. Anônimo15:18

    A alma do poeta exala perfume de flor, odor do resto da dor, cheiro amargo da despedida e assim cria poemas, poesias que exaltam a vida cheia de amor, amargura, dor, esperança, alegria.

    ResponderExcluir