01/06/2010

Poesia de Álvaro de Campos

FERNANDO PESSOA
Cartas de Amor
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)Álvaro de Campos, 21-10-1935

Um comentário:

  1. Bom dia, Alba. Dia lindo, ensolarado. Seria ridículo se não me sentisse inspirado. Este poema do Pessoa me inspira ainda mais a escrever...sejam cartas ou simplesmente palavras soltas cujo nexo só minha alma poderia subentender. Bom domingo!

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